sábado, 11 de abril de 2020

Utilização de Máscaras (APR)

Mais do que estarem na "moda", estão no centro da discussão e da controvérsia: falo de máscaras!
Esta controvérsia resulta de informações dissonantes a nível mundial. Uns advogam que sim, outros que não e outros que "nim". E... quem tem razão?
O que temos assistido, relativamente a esta pandemia, é que os países que impuseram o uso obrigatório de máscara foram (são) aqueles que melhores resultados estão a ter nesta luta contra a proliferação do vírus. A acreditar que são verdadeiros os dados revelados, poderemos de forma simplista dizer que SIM... sim o uso obrigatório da máscara tem efeitos positivos na luta contra o vírus. Na realidade, nas mais diversas área profissionais, o uso de máscaras é uma prática corrente e até mesmo obrigatória no âmbito da segurança e saúde no trabalho.
Ao longo dos últimos 20 anos, tanto como utilizador como formador, em acções onde este tema é tratado com regularidade e naturalidade as máscaras estiveram presentes e nunca duvidei do beneficio do seu uso, mas alimento sérias dúvidas se o seu uso é efectivamente benéfico. Parece um paradoxo, mas, na realidade, e "trocando a prelecção por miúdos", não é. O seu uso é efectivamente benéfico mas o seu uso incorrecto, que acontece em grande parte das vezes, torna-as inúteis e potencialmente perigosas!
 Quando nos referimos a máscaras, estamo-nos a referir a um equipamento APR (aparelho de Protecção Respiratória), que faz parte do EPI (Equipamento de Protecção Individual).


 Máscara - Dispositivo com viseira incorporada que protege boca, nariz, olhos e face em simultâneo (imagem 1).

Semi-máscara - Dispositivo que apenas protege boca e nariz (imagem 2). Neste caso a semi-máscara é designada por máscara auto-filtrante ou Filtro Facial (FF)




Importa, definir alguns conceitos:

Perigo: é uma característica intrínseca do "sujeito", ou seja, o potencial que algo tem para ser adverso à saúde.
Risco: é a probabilidade de determinado evento acontecer face a uma condição de exposição.

Quanto mais baixa for a exposição a um determinado perigo mais baixo será o risco, assim, para reduzir o risco é necessário reduzir a exposição.
A figura abaixo elucida bem estes dois conceitos e a diferença entre eles e é importante que se compreendam para depois entender o papel das "máscaras" em todo este processo da COVID 19.


Os APR (Aparelhos de Protecção Respiratória - vulgo máscaras) podem ser de 2 tipos:

APR Isolantes - independentes da atmosfera envolvente (não são estes que nos interessam para o caso vertente pois obrigam a ter um sistema de fornecimento de ar autónomo).

APR Filtrantes - dependentes da atmosfera envolvente (é destes que irei falar, pois é aqui se se incluem as semi-máscaras de uso comum utilizadas para protecção contra o coronavírus).

Os APR Filtrantes podem ainda ser de pressão negativa ou positiva. Irei abordar apenas os de pressão negativa, que são os que necessitam do nosso esforço respiratório para "obrigar o ar a passar pelo filtro, pois são estes, uma vez mais, os que estão em causa e no centro da controvérsia.
Para que o ar que inspiramos seja "limpo" de agentes físicos, químicos ou biológicos, será necessário que o mesmo passe através de membranas filtrantes que designamos por filtros. Ora estes filtros podem ser filtros de partículas, de gases ou combinados. Para a situação do coronavírus as "máscaras" equipadas com filtros de partículas são suficientes, porque filtram partículas sólidas e líquidas em suspensão (que poderemos, sem grande rigor, chamar aerossóis).

A capacidade filtrante dos filtros é dada pela sua classe e é a seguinte:

Classe P1 - baixa eficácia (grau de penetração 20%)
Classe P2 - Média eficácia (grau de penetração 6%)
Classe P3 - Alta eficácia (grau de penetração 1%)

O fabrico de máscaras têm normas para que a sua qualidade esteja de acordo com os padrões. Uma das normas pela qual os fabricantes têm que se reger é a EN 149-2001,  entre outras e os fabricantes são obrigados a colocar nos equipamentos ou na sua embalagem algumas informações.
Vejamos o que deveremos ter em conta na aquisição de um APR (aparelho de proteção respiratória) e o significado das inscrições.

Marcação CE - 
A presença da marcação CE nos EPI indica que os mesmos cumprem os requisitos harmonizados, permitindo que sejam comercializados em qualquer local da União Europeia. Esta condição é aplicável a produtos fabricados em países terceiros e importados para a UE. Por isso, aquando da aquisição, terá de ser um critério de escolha por parte do consumidor!

Os APR têm uma capacidade filtrante e para que possam proteger adequadamente contra agentes químicos ou biológicos terão de ser da Categoria III:
São EPI’s de design complexo, destinados a proteger o utilizador de qualquer perigo mortal, ou que possa prejudicar gravemente e de forma irreversível a sua saúde; por exemplo:
  • Todos os dispositivos de protecção concebidos e fabricados para proteger contra quedas de altura.
  • Todos os equipamentos de protecção respiratória para proteger contra os aerossóis sólidos e líquidos ou contra gases.
  • As máscaras terão que ser da categoria 3. (Cat III).

Interpretação da informação:

  • CE 0194, que significa que a máscara foi sujeita a uma avaliação de riscos;
  • EN 149:2001 + A1: 2009 - as normas que o fabricante seguiu para colocar a "máscara" no mercado;
  • FFP2 - Significa que este equipamento é uma peça autofiltrante, ou seja, que a própria "máscara" toda ela é constituída pelo material filtrante. As letras FF significam Filtro Facial. Neste caso é um filtro facial de classe 2 (média eficácia);
  • NR - significa que é "Não Reutilizável", logo, usa-se e... claro, deita-se fora após cada utilização. Se tiver a letra "R", então sim, pode ser reutilizada.

Fonte: IPQ

  Bem, depois do exposto acima, então poderemos verificar que, em bom rigor, só estaremos devidamente protegidos se utilizarmos "máscaras" com marcação CE + nº organismo que procede à avaliação de risco e que essa "máscara" seja da Classe P (preferencialmente P3) e não deveremos reutilizar a "máscara" se tal não for indicado.

Uma vez que já sabemos as características das "máscaras", vamos abordar as questões da utilização. Uma "máscara" com alto nível de protecção se for mal utilizada é pior do que não usar nenhuma ou pior do que usar uma de baixo nível que seja bem utilizada.

Regras na colocação e utilização da "máscara":

Barba: Para as senhoras está resolvido o dilema... e para os Homens de barba rija? Bem, o mais curta possível ou de preferência barba desfeita, permitindo uma melhor aderência ao rosto. Queremos impedir que partículas abaixo dos 50 Mícrons entrem para o interior da máscara e se houver zonas de fuga serão também essas as portas de entrada!



Colocação: O interior da "máscara" nunca pode ser tocado com as mãos ou luvas pois poderemos estar a colocar no interior da "máscara" partículas contaminantes que depois vão entrar nas vias respiratórias.




















(Clique na imagem)


Os elásticos que seguram a "máscara" deverão ser colocados correctamente. O elástico inferior da "máscara" na parte inferior da nuca (pela parte de baixo das orelhas) e o elástico superior da "máscara" na parte média da nuca (pela parte de cima das orelhas).

Depois da "máscara" colocada no rosto há que ajustar bem ao rosto e ao nariz. As "máscaras" têm uma parte onde existe uma tira metálica ou de outro material flexível que permite o ajuste correcto. 


Erros comuns a evitar:
(Clique na imagem)

Perante tudo isto, fica claro que a "máscara" tem regras e exige boas práticas no uso, caso contrário dá uma falsa sensação de protecção. Será fatal!
São muitos os maus exemplos de utilização destes dispositivos de protecção e os utilizadores vagueiam felizes e contentes pensando estar protegidos. Não estão!
É bom referir também que não há dispositivos que reduzam o risco a "zero". O que há é dispositivos que minimizam o risco, e é assim que têm que ser encarados. Medidas e dispositivos complementares, caso existam, deverão ser utilizados e, neste caso, as medidas são a higienização das mãos e o distanciamento físico. A "máscara, deverá ser o último reduto, a última barreira de protecção, ou seja, se tudo o resto falhar, a "máscara" está lá e espera-se que seja a adequada e que esteja a ser bem utilizada, para minimizar o risco e potenciar a protecção!
Relativamente à polémica, se deve ou não ser usada, talvez ela não seja recomendada (ou não tenha sido recomendada) por falta de stocks disponíveis, ou por outra razão qualquer que desconheço. 
A imagem seguinte reflecte bem o que se passa quando se espirra.

Desta forma o uso de "máscara" é benéfico para todos:
- se espirrar impede a projecção de partículas possivelmente contaminadas;
- e minimiza o contacto com partículas possivelmente contaminadas.

Resumo:
As "máscaras" são dispositivos de protecção respiratória (APR) que sendo autofiltrantes são designadas por filtros faciais (FF) e têm uma classe de protecção (P1, P2, P3), sendo as FFP3 as mais seguras e as que garantem a melhor protecção.
Protegem o próprio e o próximo mas a sua correcta utilização é a única forma de isso acontecer, caso contrário, cria uma falsa sensação de protecção e, como diz o ditado, "é pior a emenda que o soneto".
As "máscaras" terão que ter marcação CE e se forem "Não Reutilizáveis" após cada utilização deverão ser inutilizadas, o que pressupõe que temos de ter mais que uma "máscara" por dia para utilizar. São, de uma maneira geral, mal utilizadas pela população por falta de conhecimento/ formação.
Devem ser encaradas como último reduto da protecção, ou seja, utilizadas simultaneamente com todos os outros cuidados emanados pelos serviços oficiais.

Conclusão:
O uso da "máscara" é benéfico desde que feito de forma correcta (colocação e uso); 
"Máscaras" cirúrgicas, P1 e P2 apenas protegem o próximo. Deveremos utilizar uma "máscara" FFP3, para completa protecção do próprio e do próximo;
A "máscara" Não Reutilizável é de uso único, isto é, após cada uso deverá ser inutilizada;
A "máscara" deverá ser encarada como o último reduto da protecção e todas as outras recomendações e medidas mitigadoras do risco deverão ser postas em prática em simultâneo.


Com abnegação, perseverança, paciência ... vamos superar o "bicho"!

Saúde!


Nota: sempre que se utiliza o sinal gráfico aspas na palavra máscara significa que o termo correcto a utilizar deveria ser semi-máscara.



1 comentário:

santos disse...

Boas
Olá Jorge em primeiro de tudo forte "abraço", excelente post , "clarinho como agua" nem podia ser de outra forma vindo de ti . Queria aqui era apenas complementar seguinte pormenor ou "pormaior" que será o facto que muitas mascaras faciais utilizam válvula para facilitar a expulsao do ar ora partindo de que o uso da mascara obedece ao principio de que " a minha protege o outro e a do outro me protege nao sera´uma boa pratica a utilizaçao dessas mesmas em covid 19 em proximidade pois o ar expelido não sai filtrado.e ainda mais devem ficar para utilizaçao onde sao efectivamente validas (agricultura e industria).haja saude , e para mais 963195642.

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