Contra factos (quase) não há argumentos! E os factos que relatas, sendo factos, não são de hoje, são de sempre.
Ouvi, há 20 anos, uma palestra dum Sr. estrangeiro, que leu um pouco da história económica de Portugal, e em resumo concluiu "Portugal é um país de comerciantes".
Essa afirmação, não sendo inteiramente verdade, nem se aplicando à grande maioria da população, não deixa de ser verdade porque se aplica a muita gente ao longo da história, desde os Descobrimentos.
Ora, ser comerciante, é bom. Quero com isto dizer que, ser só produtor, ou antes disso, ser só inovador, não chega se não se transformar o que se inova e produz, em dinheiro. E como é que se transforma isso em dinheiro? Comercializando!
Quando se produz, como na horticultura, por exemplo, podíamos também falar na fruticultura, e outras áreas da economia do sector primário, e essa produção é directamente consumida pelo consumidor final, ou os clientes vêm à nossa horta comprar, ou vamos nós até eles vender.
Há vários canais para se levar os produtos da terra até ao consumidor final, e claro, há o canal dos mercados abastecedores, dos armazenistas, dos retalhistas, dos grandes retalhistas (agora designados, pomposamente, de moderna distribuição.
É assim que os produtos chegam ao consumidor final. E o consumidor final só quer "bom, barato e fácil de adquirir, com todas as comodidades". Os grandes retalhistas, sabendo disto, trataram de ir ao encontro das necessidades dos seus clientes (o bom do consumidor final comodista) e construíram os modernos centros comerciais com hipermercados acoplados. Os clientes finais não vão ao Centro comercial só comprar alfaces, aproveitam e vão ao cabeleireiro, compram carne, compram pão, compram roupa, vão ao cinema, etc...
O "desgraçado" do agricultor, que também gosta de ir ao shopping, indigna-se porque vê lá alfaces mais baratas que o preço que lhe custa produzir, e vê os seus conterrâneos a comprar, todos satisfeitos, enquanto as suas alfaces espigam na sua horta...
Os portugueses comerciantes lucram sempre! Está no seu ADN: comprar barato e vender o mais caro possível!
Como se resolve este problema? Falo do problema do pequeno agricultor.
Simples!
1º. Para se ser agricultor, além de saber agricultar, tem que saber vender, identificar os seus clientes, identificar as necessidades dos seus clientes e definir estratégias comerciais para chegar até eles;
2º Se a cadeia dos armazenistas e retalhistas que existem na sua região, ou no seu país, são demasiado opressores na altura da compra, procurar outros armazenistas/retalhistas foram da sua região e fora do seu país (por esta razão é que foi muito bom a instituição do mercado único europeu;
3º Um agricultor, sozinho, ou associado em pequenos grupos, não tem força negocial, por outras palavras, não tem massa crítica para suportar uma boa equipe de marketing/vendas que vá vender a outros mercados. É preciso associações, que podem ser cooperativas, ou sociedades por quotas que tenham como principal objectivo, vender os produtos!;
4º À semelhança do que se fez na avicultura, depois na suinicultura, a verticalização da produção e comercialização é o caminho!;
5º Copiar os bons exemplos, a roda já foi inventada há muito tempo! A cadeia dos supermercados franceses "Intermarché" resultou duma associação dos agricultores franceses que quiseram levar os seus produtos até ao consumidor final. Depois o Intermarché internacionalizou-se, e já vende em Portugal, os produtos dos agricultores franceses...
Em resumo, em vez de indignação, melhor se se passe à acção:
IR AO ENCONTRO DOS CONSUMIDORES!
Antes de fazer a próxima sementeira, tem que se saber de antemão, onde vai ser colocada a produção e a que preço médio.
Um agricultor, antes de o ser, tem que ser um vendedor!
Se eu fosse reitor duma universidade agrária, em todos os anos do curso, desde o 1º ano, haveria cadeiras de marketing e vendas, até ao estágio.
Estamos cheios de engenheiros agrários e veterinários que só sabem produzir, ninguém sabe vender, até têm vergonha da palavra vendedor.
Este é o segredo, sejamos vendedores!
* Joaquim Marques, empresário.
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7 comentários:
Creio ser Donald Trump quem diz algo do género, acerca do sucesso comercial:
1º - temos de ter um bom produto
2º - temos de arranjar maneira de o levar ao consumidor
3º - devemos mantermo-nos na liderança
4º - devemos ter uma visão de futuro
Creio que o 1º ponto não é nada de impossível, muito pelo contrário: apesar de não sermos o povo mais bafejado por bons solos e bom clima da U.E., temos um sol que os países mais a norte só invejam, e que nos permite a realização de culturas "fora do tempo", de qualidade.
Temos também, no país pequeno que somos, uma enorme diversidade de microclimas, e variedades de frutas e hortícolas regionais, de lacticínios e charcutarias de qualidade ímpar, de carnes de raças autóctones únicas, de peixe de excelente qualidade.
Por outras palavras... Temos BOA COMIDA!
E, digam o que disserem, não nos alimentamos de serviços, de computadores, de chips, de petróleo. Alimentamo-nos daquele que, pelo nome que tem, mostra a sua essência e importância, tantas vezes esquecida, que é o Sector Primário.
E esse deveria ser visto de outra forma, não só pelos governantes, como pelos consumidores não ligados ao mesmo. Que não se apercebem que, no dia em que o último agricultor/pescador português deixar a actividade, passamos a estar completa e absolutamente à mercê de quem tiver comida para vender... Comida essa, que será vendida a preço de ouro, de petróleo, de liberdade, de Vida...
O que nos falta?
Saber levar os nossos produtos ao consumidor. Educá-lo, para estar consciente das compras que faz.
Educar o consumidor a não se resignar ao que as grandes superfícies lhes "oferecem", a nível de qualidade e quantidade e diversidade.
Educar o consumidor a protestar quando se depara com alimentos de qualidade duvidosa a preços mais baratos que o produto português.
Educar o consumidor a exigir produto português e a exigir idoneidade das entidades certificadoras e fiscalizadoras.
Como educar?
Workshops de cariz lúdico-informativo, dentro destes temas e abertos à população em geral, seria uma aposta interessante, ainda para mais porque não existem.
Panfletos.
Formações nas escolas, a adultos e crianças/adolescentes.
Blogues (como este, já é um bom princípio).
Mails "virais" a chamar a atenção para determinados assuntos como os referidos no artigo anterior, acerca de IVAs imputados aos produtores/fornecedores.
Marketing boca-a-boca.
...
3º - Criar uma estrutura com peso e importância, tal como foi referido acerca dos agricultores franceses, e tal como se vê em Itália, na província de Bolzano, na cultura da Maçã.
[Um pouco mais difícil devido à mesquinhez dos dirigentes cooperativistas, que só entendem esses cargos como uma subida ao poder e uma mais-valia pessoal e individual.]
4º - Apostar na diferenciação. Nos produtos agrícolas regionais, perfeitamente adaptados aos solos e climas onde se cultivam, e que não são vendidos porque os consumidores "normais" não têm acesso aos mesmos, porque não os conhecem.
Apostar na investigação de melhores técnicas de produção, de conservação, mas também na investigação da qualidade dos nossos produtos que têm sabor, aroma, paladar!
E já me estou a alongar de novo.
Agradeço ao autor do blogue a possibilidade desta participação e desejo a todos o maior sucesso pessoal e profissional e que, juntos, tornemos este nosso pedaço de terra um local mais aprazível de viver.
Cumprimentos.
Não me ficava nada bem comentar-me.
Quero só deixar um link que, talvez, ilustre um nadinha do que eu quis dizer:
http://www.facebook.com/video/video.php?v=179126308807943
Vejam, e tirem as vossas ilações.
Caro Joaquim Marques AC:
Vi o vídeo e creio que o que queria ilustrar era a vantagem da entrada de "sangue novo" e de "ideias novas" num negócio "antigo". Completamente de acordo, se era essa a ideia.
No entanto, não deixo de pensar (e sem querer minimizar ou desdenhar do esforço da D. Teresa Mendes) que a vida está bastante facilitada quando temos uma herdade de 300ha, estruturada, com apoio da família, e que permite "vôos" diferentes daqueles que apenas têm 5 ou 10 ou mesmo 20ha de terreno e trabalham sozinhos.
A propósito, não vejo mal nenhum de uma pessoa se "auto-comentar", creio ser útil para esclarecer ou apenas acrescentar alguma informação/opinião.
A conversar e a partilhar é que a gente se entende.
Cumprimentos.
Senhor Lourenço,
Apreciei bastante o facto de se me dirigir, há muito que ninguém me dá importância e o seu gesto deixa a minha auto-estima lá em cima (presa por um fino fio, mas está lá em cima e é preciso é que esteja e se aguente)
Sou português, nasci no Portugal imperial, tenho uma vivência para lá do velho continente mas, sendo esta a minha pátria, partilhada com os outros patrícios de diferentes raças, costumes e crenças, cedo descobri que, para metade deste povo, a "galinha da minha vizinha é mais bonita que a minha".
Ora, sobre galináceos não era a resposta de V.Exa esperava, nem eu a quero dar, usei só o dito popular para ilustrar a minha discordância sobre a a sua observação "...quando temos uma herdade de 300ha, estruturada...". Discordo total e absolutamente dessa visão das coisas.
Cada um vive com o que tem e com o que vai conseguir, com a cabeça entre as próprias orelhas e na medida do nº de neurónios, deixar que o cérebro faça o seu trabalho, na criatividade inerente a quem não se sente conformado e pretende melhorar.
Para lhe ser franco, nem me tinha apercebido que a propriedade da Sra Dona Teresa tinha 300 ha. Mas que já produzem azeite, segundo disse o caseiro, desde que a empresária era menina, isso parece ser verdade. Produziam e vendiam, mas não vendiam com o valor acrescentado que hoje têm os produtos Almonjana e Fadista (vendidos em todo o país e já no estrangeiro). Antes, certamente venderiam a algum intermediário, armazenista de azeites, por muito menos dinheiro.
A minha mensagem, sugestão, ao dar a conhecer o vídeo, foi na sequência do meu comentário que o amigo Jorge resolveu publicar como um post: Sejamos Vendedores! Vendedores do que já produzimos, muito ou pouco, vamos à procura de outros mercados, embalemos o que a nossa terra nos oferece, comecemos de pequeninos, vamos crescendo... o Mundo, o Mundo é tão vasto e para tudo há um comprador, a mais das vezes ele não sabe que nós existimos!
Meu caro Sr Lourenço, os meus respeitos.
Atenciosamente, um seu criado
Joaquim
Bem meus caros, gosto vo vosso face to face... este blog fica mais rico....
obrigado!
Abraço aos dois...
Bem meus caros, gosto vo vosso face to face... este blog fica mais rico....
obrigado!
Abraço aos dois...
Caro Joaquim Marques AC:
Por acaso, uma das frases que utilizo bastante para representar o povo português, do qual também faço parte, é precisamente "a galinha da minha vizinha é mais bonita que a minha".
Mas desde sempre, acrescento: "Porque ninguém vê ou estima o trabalho que dá à minha vizinha para que aquela galinha seja mais bonita que a minha."
Não entrei no pressuposto que a D. Teresa tivesse a vida completamente facilitada e não desdenhei do trabalho a que se deu para que o seu azeite brilhasse com outro valor monetário.
Aliás, mencionei o tamanho da herdade porque foi dito no filme, mas também apontei o facto de estar estruturada e de ter apoio da família, coisa que muitos agricultores que conheço não podem dizer daquilo que herdaram ou até daquilo que têm construído sozinhos, sem apoio de ninguém.
O tamanho da propriedade reflecte o potencial produtivo, e a capacidade de chegar a determinados mercados. Especulando um pouco: Conseguiria ela, com todas as suas capacidades mercantis, obter o mesmo resultado se não tivesse a área que tem, a produção que tem e a capacidade (financeira) de investimento que mostrou?
A galinha da vizinha só é mais bonita que a minha SE ela tiver mais cuidados que eu e SE for de uma "variedade" diferente...
Não sei se me faço entender.
Vendedores? Sim, sejamos. Mas será que o pequeno produtor tem tempo e dinheiro para tudo, entre produzir e vender?
Daí eu entender que deveria haver uma estrutura organizacional que fizesse a parte comercial que o pequeno produtor não pode ou não consegue, mesmo tentando.
Caro Jorge Carvalho,
Tenho seguido atentamente este blogue quase desde o início. Apenas lamento que não seja uma escrita mais regular, que nos proporcione a possibilidade de discutir assuntos sérios e de forma séria.
Cumprimentos a ambos,
Lourenço
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