Pois, mas será que o acompanhamento não será também responsável pelo toque de classe que transforma o mais lânguido bacalhau num dos pratos gastronómicos mais apreciados em Portugal?
Pois, se assim é ou não, fica a cargo da avaliação fidedigna dos mestres da culinária, mas, o que da minha parte vos posso afiançar é que um belo bacalhau vale muito mais se acompanhado com a bela couve. E da mesma forma que digo que “gostando muito de bacalhau não me serve qualquer rabo”, também afirmo que “gostando muito de couve mas não me serve qualquer talo”.
Aqui, a penca desempenha um papel único e singular e, de entre todas as couves, é a que mais se destaca nesta época natalícia, como tal, é justo que se fale um pouco desta cultura.
Todas as couves, a penca incluída, pertencem à família das brassicáceas (crucíferas), família que engloba também outras espécies com interesse agronómico como é o caso do nabo, agriões, rabanete, rúcula e também não menos importante, nem sempre por boas razões, já que se trata de uma infestante, o Saramago.
As couves que se cultivam em Portugal pertencem à espécie Brassica oleracea L, que engloba diversas variedades, nas quais se encontra a couve penca que é uma variedade acephala, isto é, não produz cabeça.
A penca, também conhecida por couve Portuguesa ou tronchuda, tem várias origens e cada um “puxa a couve ao seu bacalhau”, acabando por se dizer que a penca de Chaves é a melhor, mas, outros vêm, e logo dizem que a penca de Mirandela é que é saborosa e, como se não bastasse, logo aparece quem bem diz da penca da Póvoa.
Umas e outras, têm naturalmente características muito próprias devido às condições edáfo-climáticas o que lhes confere sabores particulares e igualmente apetitosos, pelo que, sendo de Chaves, Mirandela ou da Póvoa, o importante é perceber as características morfológicas comuns a todas e as exigências edáfo-climáticas, para que se possa tirar partido de uma cultura que economicamente tem uma expressão muito grande na horticultura nacional, principalmente nesta época do ano.
Produções relativas aos anos de 2000 nas diversas regiões (Fonte: INE, estatísticas da horticultura 1995-2001).
Regiões
Entre Douro e Minho (EDM)
área cultivada - 437 ha
produção total - 5158 toneladas
Trás-os-Montes (TM)
produção total - 2500 toneladas
Beira Litoral (BL)
produção total - 1446 toneladas
produção total - 288 toneladas
produção total - 6617 toneladas
produção total - 165 toneladas
produção total - 250 toneladas
• Raiz - aprumada na qual crescem grande número de raízes mais pequenas, podendo considerar-se que possuem um sistema radicular superficial (aproximadamente 30cm).
• Folhas - tal como na maioria das brássicas, possuem uma cerosidade típica que dificulta a permanência de gotículas de água e têm uma cor verde escura a verde clara consoante a variedade. Tem folhas grossas e talos carnudos e pode alcançar os 50 cm de altura e um peso de 2 kg.
• Flores – hermafroditas, com auto polinização e polinização entomófila (insectos).
• Fruto – é uma silíqua
As couves são, de um modo geral, plantas adaptáveis às mais diversas condições de clima e de solo.
Temperaturas baixas e terrenos férteis e frescos conjugam as condições ideais para a sua produção.
Em termos de solos interessam, em especial, os franco argilosos ou todos os que tenham boa capacidade de retenção de água mas, simultaneamente, drenagem suficiente para evitar excessos.
As terras arenosas são consideradas as melhores para variedades precoces e as mais compactas para as variedades tardias.
As couves desenvolvem-se mal em terrenos demasiado ácidos, nos quais estão sujeitas ao ataque mais frequente de certas doenças como a potra e a falsa potra.
De uma forma geral pode dizer-se que as pencas são plantas que produzem melhor em condições de clima frio-temperado (7º-22ºC), suportam mais ou menos bem as geadas e exigem uma precipitação (rega) escalonada.
O clima de influência atlântica do litoral português reúne condições óptimas para a produção destas hortícolas.
De todos os parâmetros do clima é a temperatura aquele que mais influência tem no êxito do cultivo.
Devem utilizar-se plantas provenientes de viveiros certificados (raiz nua ou alvéolos), mas também poderemos semear em alfobres e depois transplantar.
Na plantação manual (aconchegar bem a raiz da planta ao solo) ou recorrendo a plantadores (ar livre);
A plantação pode ser feita em linhas simples (terreno armado à rasa) ou linhas pareadas (terreno armado em camalhões), e a densidade deve andar entre as 50.000 a 65.000 plts/ha.
As regas pós plantação devem ser frequentes pois a planta desidrata com facilidade.
Dever-se-á proceder ao controlo das infestantes mediante a aplicação de herbicidas homologados para o efeito e/ou realizar sachas durante o seu ciclo cultural. A monda térmica também é uma solução, bastanto para o efeito ponderar os custos da mesma, pois nem sempre esta cultura paga esta operação!
Problemas Fitossanitários
Pragas –
Substâncias activas homologadas:
Mosca Branca da couve – Cipermetrina; lambda-cialotrina;
Mosca da raiz- Diazinão;
Áltica- Não há substâncias axctivas homologadas para a finalidade
Nemátodos- 1,3-dicloropropeno;
Lesmas e caracóis - metiocarbe, tiodicarbe
Doenças:
Míldio (Peronospora parasítica)
Substâncias activas homologadas : Mancozebe,
Potra (Plasmodiophora brassicae)
Substâncias activas homologadas – não existem. Meios de luta cultural, com rotações de pelo menos 7 anos e corrigir o pH.
Alternariose (Alternaria brassicae)
Substâncias activas homologadas: Mancozebe
ferrugem branca (Abugo cândida) Substâncias activas homologadas: Mancozebe
Podridão negra das crucíferas ( Xanthomonas campestris) Substâncias activas homologadas: hidróxido de cobre
Em qualquer dos casos, quer se trate de pragas ou doenças, antes do recurso ao uso de produtos fitofarmacêuticos (luta química), deveremos recorrer aos outros meios de luta, tais como luta cultural, luta biológica, biotécnica e genética.
Espigamento: devido a condições de stress - encharcamento, seca, elevadas temperaturas.
Tip-Burn - Carência de cálcio e/ou excesso de salinidade no solo.
Outras carência - boro e molibdénio.
Calorias 27kcal
Glicídios 4g
Proteínas 3g
Lipídios 1g
Cálcio 203mg
Fósforo 63mg
Ferro 1mg
Potássio 403mg
Fibras 3,1g
Utilização:
Sopas e cozidos e claro está, com o belo do bacalhau que com um azeite extra virgem e um vinho verde – Quinta do Tapadinho…. Bem, bem, que delicia!
fotos do autor e do manual de protecção integrada de culturas horticolas
25 comentários:
Bom Ano de 2009 para ti, como muitas hortícolas e horticularidades.
Agradeço e retribuo os votos formulados!
Bjinhos enormes para ti!
Ó Senhor Engenheiro,
Sim Senhor!
Um post técnico o bastante e simples o suficiente para que, nós os leigos, os da minha laia, só esses, aprendam com facilidade.
Muito obrigado pela sua partilha!
Agora, couve penca, só para o ano, venham daí os segredos das alfaces.
Caro Presidente, obrigado pela visita, pelo elogio e pelo apoio, pois uma opinião de um "Catedrático" em blogs como tu, é-me particularmente útil e motivadora, por isso, do fundo do meu coração, o meu muito obrigado!
Quanto ao resto, repito o que disse na resposta ao teu comentário na 1ª postagem deste blog, assim cá vai: "Marques, quanto a ti, meu caro, eu tenho alfaces para vender e se te ensinar tu já não compras, por isso... (vai lá ver... lol)!
Bem, mas seja como for, vou pensar no teu caso e pode ser que revele o segredo... eh, eh,...
Abraço e obrigado!
Eh Jorge, parabens !! se o Prof Batista te apanha estás feito !!
aquele abraço
Joao
Obrigado João,
o Prof. Baptista se me apanha só deveria ficar orgulhoso pois de facto eu aprendi umas coisitas com ele e eu, de facto, fico orgulhoso também do mestre que tive.
Quanto a ti não te esqueças do repto que te lancei...
abraço
Olá!
Está interessante o teu blog.
Agora que já elogiei :p faço um olhar de hush-puppy e pergunto:
Que se passa com couves penca com as folhas mais velhas a ficarem arroxeadas/avermelhadas nas margens? São pequeninas, só têm umas 6 folhas... Parece-me uma carência de algum nutriente, mas não há análises de solo e estou com dificuldade em encontrar esses dados na net.
Podes dar umas dicas?
Obrigada.
Saudações luminosas deste lado do Mundo :)
Olá Fada, obrigado pelo elogiao ao Blog e sê bem vinda!
Quanto à tua questão, pelo olhar terno e simples, também eu faço o mesmo olhar e te pergunto que lado é esse do atlântico, para que eu possa tentar perceber se existem outros factores que possam influênciar o desenvolvimentos dessas benditas pencas!
assim, pelos sintomas que me descreves, tudo indica que seja uma carência de fósforo, mas, mas, mas, com as devidas ressalvas que uma análise de solo pode confirmar, se bem que melhor seria uma complementaridade entre análise de solo e foliar, mas pelo que depreendo a cultura não deverá ser em larga escala pelo que não compensará realizar a análise foliar.
outro factor pode induzir a esses sintomas, e aí sim, já necessitava de saber a tua posição geográfica, e tem a ver com as baixas temperaturas, pois podem e geralmente ocasionam essa coloração vermelho/violácea de que falas.
espero ter sido esclarecedor tanto quanto a distância o permite.
bjinhos e abraços e com prazer recebo a tua luminosidade!
Ups! Só vi agora a tua resposta, obrigada!
De qualquer das formas, tinha chegado à mesma conclusão, e creio que se deve a ambas as questões: provável carência de fósforo e baixas temperaturas! Aguardemos para ver como se desenvolvem as plantinhas... :)
Aproveito para esclarecer que a minha posição geográfica nada tem a ver com as benditas das couves... lol E o meu lado do Atlântico é igual ao teu... :D
Acrescento ainda que hoje comi um belo dum Caldo Verde, uma das minhas sopas favoritas! :p
Saudações radiosas deste lado da bolinha azul :)
Jorge,
Parabéns pelo artigo da couve penca. Está muito profissional e acessível a todos aqueles que queiram agricultar.
Fizeste muito bem falar de uma hortícola que tem grandes tradições gastronómicas no nosso País!
Força e aquele abraço!
Fada,
agora que "já não me esclareceste" qual a tua posição toponómica, digo-te que setou sempre ao dispôr daquilo em que aches que posso ser útil.
Quanto ao belo do caldo verde, isso cheira-me um pouco a "egoísmo" (lol), pois bem podias ter-me convidado que eu iria com todo o prazer, mas enfim, quem sabe um dia...
E,já que jogamos na mesma equipa, faço um passe em profundidade para o flanco esquerdo da bolinha azul que, espero culmine na radiação plena do golo... bjinhjos e abracinhos!
Leça, amigo...
obrigado pela força e pelo apoio. Ainda bem que gostaste do artigo...
aquele abraço!
Olá!
As couves estão na bairrada... Eu, nem por isso! :p
Falando de coisas verdes (egoísmo, invejas, caldos verdes e afins), acrescento, sem qualquer malícia da minha parte, que comi de sobremesa um belo abacate esmagado com mel e canela... E assim, no meio deste frio que se faz sentir, soube-me a trópicos! :)
Quanto ao "jogamos na mesma equipa"...huumm...será? :p
Obrigada pela oferta de ajuda, é muito bem-vinda! :)
Saudações calorosas deste lado do bosque! :)
PS- foi sem malícia porque não sei se gostas de abacates, mas se gostares, então podes acreditar que foi mesmo com malícia...lol
De facto, a selva encerra mistérios insondáveis que, um reles mortal como eu, por muito que se esforce, não consegue vislumbrar!
A equipa, sim, estou convencido que é a mesma!
O abacate, sim, adoro a abacate, e como tal , contribuo para a tua frívola sensação de prazer e malícia, o que, diga-se, me dá ainda mais prazer!
Nesta época de frios polares e corações gelados, que bem me irá fazer a tua saudação calorosa, dessa forma me faço mais... tropicaliente... :-)
Bacci
e eu a pensar, que ia comentar a penca!!! Mas com estes comentários, o próximo artigo será de horticularidades tropicais.
Parabéns pelo blog!
Adelaide,
os visitantes é que puxam por mim e eu tenho que dar resposta a todo o tipo de comentários, sejam eles mais do foro hortícola ou do foro tropicaliente... estou cá para todo o tipo de "cultura"...
obrigado pela visita.
bjinhos
A julgar pelas condições edafo-climáticas referidas, não me parece se sejam propícias ao desenvolvimento de frutícolas tropicais, em regime ao ar livre. Contudo, desde que as condições “de clima” sejam devidamente estudadas e executadas, em regime sob coberto, parece-me que estas “culturas” poderão ser efectuadas, com sucesso, e muito provavelmente, já estarão a ser ensaiadas. Bons êxitos na produção!
Graciete, ati, especialmente, apenas consigo responder desta forma :-).
bjinhos
Parabéns Jorge.
Vou pensar em mudar o meu jardim para temas deste HORTICULARIDADES.
Começar pelas couves, que depois de pegarem duram mais que as pilhas D. Por outro lado deixo de ter de cortar a p*ta da grama que não me serve para nada.
Grande Abraço
"frívola sensação de prazer e malícia"
AHAHAHAH
Quem disse que era frívola!?!?!? lol
:)
Quanto à selva...se não encerrasse mistérios insondáveis, não seria uma selva, seria um jardim previsível e rotineiro...Talvez bonito, mas dificilmente surpreendente!
Às vezes, para se vislumbrar, basta procurar a nossa Imortalidade... Cá dentro, onde mora a Alma...
Beijinhos estrelados :)
Miguel,
de facto esse teu Jardim em S. Carlos só te dá prejuízo, como tal, reformula a tua opção e muda o rumo para as horticularidades; verás que terás mais lucro!
Se precisares de ajuda pagas a viagem de avião e eu vou aí plantar as couves!
Abraço e obrigado pela visita!
Fada, por vezes as humanidades têm destas coisas, despertam sensações que estão longe de ser as mais claras e transparentes mas, nessa saga de inquieta procura, perco rumos e encontro destinos perdidos em qualquer selva que se me apresente pelo caminho, o qual, não tenho medo de trilhar pois, assim, me faço cada vez mais caminheiro do meu destino!
Busco de facto de forma incessante a alma de quem quer que seja e onde quer que ela esteja e, nessa procura olho sempre o céu, e de quando em vez, bem me quer parecer que anda alguém a enviar-me beijos... afinal eras tu!
:-)
lol
Corajoso, o menino... :)
Saudações muy cordiais... :)
Boas amigo Rabiçais,
Parabéns pelo blog. Está bem pensado, com posts muito úteis e fáceis de compreender.
Já agora uma pergunta, quando dizes corrigir o solo para combater a potra, é leva-lo para pH próximo do 7, certo?
Abraço e força
Fred
Olá Frederico, obrigado pela força!
Quanto à questão, sim, corrigir o pH é elevar o seu valor para valores próximos da neutralidade (6,5-7).
abraço, aparece!
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