quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Penca o ex-líbris do bacalhau!

Todos os anos por esta altura o bacalhau é um dos pratos mais consumidos e confecciona-se de toda maneira e feitio e vai com qualquer um, com o Brás, o Narciso, cozido, frito, assado, com cebolada, cru e até uma bela punheta de bacalhau é uma delicia!
Pois, mas será que o acompanhamento não será também responsável pelo toque de classe que transforma o mais lânguido bacalhau num dos pratos gastronómicos mais apreciados em Portugal?
Pois, se assim é ou não, fica a cargo da avaliação fidedigna dos mestres da culinária, mas, o que da minha parte vos posso afiançar é que um belo bacalhau vale muito mais se acompanhado com a bela couve. E da mesma forma que digo que “gostando muito de bacalhau não me serve qualquer rabo”, também afirmo que “gostando muito de couve mas não me serve qualquer talo”.
Aqui, a penca desempenha um papel único e singular e, de entre todas as couves, é a que mais se destaca nesta época natalícia, como tal, é justo que se fale um pouco desta cultura.
Todas as couves, a penca incluída, pertencem à família das brassicáceas (crucíferas), família que engloba também outras espécies com interesse agronómico como é o caso do nabo, agriões, rabanete, rúcula e também não menos importante, nem sempre por boas razões, já que se trata de uma infestante, o Saramago.
As couves que se cultivam em Portugal pertencem à espécie Brassica oleracea L, que engloba diversas variedades, nas quais se encontra a couve penca que é uma variedade acephala, isto é, não produz cabeça.
A penca, também conhecida por couve Portuguesa ou tronchuda, tem várias origens e cada um “puxa a couve ao seu bacalhau”, acabando por se dizer que a penca de Chaves é a melhor, mas, outros vêm, e logo dizem que a penca de Mirandela é que é saborosa e, como se não bastasse, logo aparece quem bem diz da penca da Póvoa.
Umas e outras, têm naturalmente características muito próprias devido às condições edáfo-climáticas o que lhes confere sabores particulares e igualmente apetitosos, pelo que, sendo de Chaves, Mirandela ou da Póvoa, o importante é perceber as características morfológicas comuns a todas e as exigências edáfo-climáticas, para que se possa tirar partido de uma cultura que economicamente tem uma expressão muito grande na horticultura nacional, principalmente nesta época do ano.
Produções relativas aos anos de 2000 nas diversas regiões (Fonte: INE, estatísticas da horticultura 1995-2001).

Regiões
Entre Douro e Minho (EDM)

área cultivada - 437 ha
produção total - 5158 toneladas

Trás-os-Montes (TM)
área cultivada - 100 ha
produção total - 2500 toneladas

Beira Litoral (BL)
área cultivada - 82 ha
produção total - 1446 toneladas

Beira Interior (BI)
área cultivada - 15 ha
produção total - 288 toneladas

Ribatejo-Oeste (RO)
área cultivada - 389 ha
produção total - 6617 toneladas
Alentejo (ALE)
área cultivada - 11 ha
produção total - 165 toneladas
Algarve (ALG)
área cultivada - 10 ha
produção total - 250 toneladas

Características Botânicas
Raiz - aprumada na qual crescem grande número de raízes mais pequenas, podendo considerar-se que possuem um sistema radicular superficial (aproximadamente 30cm).
Folhas - tal como na maioria das brássicas, possuem uma cerosidade típica que dificulta a permanência de gotículas de água e têm uma cor verde escura a verde clara consoante a variedade. Tem folhas grossas e talos carnudos e pode alcançar os 50 cm de altura e um peso de 2 kg.
Flores – hermafroditas, com auto polinização e polinização entomófila (insectos).
Fruto – é uma silíqua

Exigências edafo-climáticas
As couves são, de um modo geral, plantas adaptáveis às mais diversas condições de clima e de solo.
Temperaturas baixas e terrenos férteis e frescos conjugam as condições ideais para a sua produção.
Em termos de solos interessam, em especial, os franco argilosos ou todos os que tenham boa capacidade de retenção de água mas, simultaneamente, drenagem suficiente para evitar excessos.
As terras arenosas são consideradas as melhores para variedades precoces e as mais compactas para as variedades tardias.
As couves desenvolvem-se mal em terrenos demasiado ácidos, nos quais estão sujeitas ao ataque mais frequente de certas doenças como a potra e a falsa potra.

De uma forma geral pode dizer-se que as pencas são plantas que produzem melhor em condições de clima frio-temperado (7º-22ºC), suportam mais ou menos bem as geadas e exigem uma precipitação (rega) escalonada.
O clima de influência atlântica do litoral português reúne condições óptimas para a produção destas hortícolas.
De todos os parâmetros do clima é a temperatura aquele que mais influência tem no êxito do cultivo.

Práticas Culturais
Devem utilizar-se plantas provenientes de viveiros certificados (raiz nua ou alvéolos), mas também poderemos semear em alfobres e depois transplantar.
Na plantação manual (aconchegar bem a raiz da planta ao solo) ou recorrendo a plantadores (ar livre);
A plantação pode ser feita em linhas simples (terreno armado à rasa) ou linhas pareadas (terreno armado em camalhões), e a densidade deve andar entre as 50.000 a 65.000 plts/ha.


Plantação mecânica em linhas simples



Máquina de plantar com três linhas

Operadores da máquina


Fevereiro-Novembro é a época de plantação.
As regas pós plantação devem ser frequentes pois a planta desidrata com facilidade.

Relativamente às fertilizções, estas deverão ser realizadas em função dos niveis de fertilidade do solo, e para isso há que proceder à colheita de amostras de solo para análise.
Como valores meramente indicativos, e considerando os niveis de fertilidade de 1 a 5 (LQARS), temos:

Azoto: 80 a 120 unidades/ha
Fósforo: 60 a 200 unidades/ha
Potássio: 60 a 200 unidades/ha
Magnésio: 20 a 60 unidades/ha
Boro: 0,5 a 3 unidades/ha
Molibdénio: 0,50 a 0,15 unidades/ha

Dever-se-á proceder ao controlo das infestantes mediante a aplicação de herbicidas homologados para o efeito e/ou realizar sachas durante o seu ciclo cultural. A monda térmica também é uma solução, bastanto para o efeito ponderar os custos da mesma, pois nem sempre esta cultura paga esta operação!

Estados Fenológicos


A colheita deverá ser feita no estado fenológico 4


Problemas Fitossanitários

Pragas

lagartas (Pieris brassicae),



Mosca Branca da couve (Aleyrodes proletella L.);

Outras Pragas

Mosca da couve ou bicho arroz (Delia radicum L.); Áltica (Phyllotreta nemorum L.); Nemátodos (Meloidogyne Spp.); Lesmas e caracóis.

Substâncias activas homologadas:

Lagartas - Bacillus thuringiensis; deltametrina; lambda-cialotrina;
Mosca Branca da couve – Cipermetrina; lambda-cialotrina;
Mosca da raiz- Diazinão;
Áltica- Não há substâncias axctivas homologadas para a finalidade
Nemátodos- 1,3-dicloropropeno;
Lesmas e caracóis - metiocarbe, tiodicarbe

Doenças:
Míldio (Peronospora parasítica)


Substâncias activas homologadas : Mancozebe,

Potra (Plasmodiophora brassicae)
Substâncias activas homologadas – não existem. Meios de luta cultural, com rotações de pelo menos 7 anos e corrigir o pH.


Alternariose (Alternaria brassicae)
Substâncias activas homologadas: Mancozebe

ferrugem branca (Abugo cândida) Substâncias activas homologadas: Mancozebe

Podridão negra das crucíferas ( Xanthomonas campestris) Substâncias activas homologadas: hidróxido de cobre

Em qualquer dos casos, quer se trate de pragas ou doenças, antes do recurso ao uso de produtos fitofarmacêuticos (luta química), deveremos recorrer aos outros meios de luta, tais como luta cultural, luta biológica, biotécnica e genética.


Acidentes Fisiológicos
Espigamento: devido a condições de stress - encharcamento, seca, elevadas temperaturas.

Tip-Burn - Carência de cálcio e/ou excesso de salinidade no solo.
Outras carência - boro e molibdénio.

Informação nutricional
Composição por 100g (Fonte: /www.diabetes.org.br)

Calorias 27kcal
Glicídios 4g
Proteínas 3g
Lipídios 1g
Cálcio 203mg
Fósforo 63mg
Ferro 1mg
Potássio 403mg
Fibras 3,1g

Utilização:
Muito ricas em carotenóides, vitamina A e cálcio.
Sopas e cozidos e claro está, com o belo do bacalhau que com um azeite extra virgem e um vinho verde – Quinta do Tapadinho…. Bem, bem, que delicia!
Espero que tenha contribuido para aumentar o vosso interesse pela cultura e, já sabem...consumam hortícolas!
fotos do autor e do manual de protecção integrada de culturas horticolas
Feliz 2009!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Boas Festas!

aproxima-se esta quadra natalícia que tanto nos diz, pelas suas tradições e emoções que encerra!
Não poderemos deixar de ver que em todo o território, aqui e ali, as tradições vão tomando formas de "bacalhau", "peru" ou até mesmo "polvo", mas, em cada uma delas, existe sempre uma horticularidade comum - a batata, o azeite e as couves!
Todos estes elementos, a par do vinho e do pão, não são mais do que o fruto de uma árdua tarefa envolta numa nobre profissão - agricultor!
Assim, o horticularidades deseja a todos um Santo e feliz Natal, e que 2009 seja um ano cheio de sorrisos expontâneos!
Feliz Natal

Pulverizações e Pulverizadores 2

 Quando o tema é pulverizações e pulverizadores deparamo-nos com uma passividade assustadora no sector. Este ano houve (há) problemas fitoss...