domingo, 15 de dezembro de 2013

Estado de sítio! Eles e elas andam por aí...

As recentes notícias de entrada na Europa de várias pragas e doenças não augura nada de bom para a agricultura Portuguesa. Temos um problema emergente que a curto prazo poderá ser catastrófico - é a minha convicção!
A Tuta absoluta (traça do tomateiro), a Pseudomonas syringae pv actinidiae (PSA do Kiwi), por exemplo, foram dois problemas introduzidos em Portugal que em muito vieram condicionar a produção e mudar hábitos dos intervenientes que, diga-se em boa verdade, nem sempre são hábitos correctos devido a uma resistência à mudança de atitudes e à adopção de boas práticas e medidas profiláticas. Esta resistência (genética, por ignorância ou mesmo por arrogância), tem contribuído para o alastrar do problema que cada vez mais se torna um problema de todos à escala global.
PSA kiwi

A flavescência dourada (micoplasma transmitido pelo vetor Scaphoideus titanus Ball.) também está a mudar o panorama vitícola nacional. Também aqui ainda se facilita imenso e se encara o problema de forma irresponsável e ligeira! Não basta apelar aos meios de luta legislativa que, apesar de importante não chega, pois é uma intervenção a jusante do problema. Com a abertura das candidaturas ao programa Vitis, as áreas de vinha serão aumentadas e renovadas e os bacelos ou enxertos prontos terão de ser plantados. Há controle? Há imposição aos viveiristas de testes ELISA ou PCR. E a termoterapia?
 
Recentemente a vespa das galhas do castanheiro (Dryocosmus kuriphilos), insecto originária da China,  está por toda a Europa e... Portugal está na mira - não tenhamos dúvidas, pois já foi detectada a sua presença em Castela-Leão, e de lá à Terra Fria ou às beiras é um "salto de pulga" que irá causar graves prejuízos ao sector - inevitavel, portanto!
Ainda mais recentemente, uma nova bactéria (Xylella fastidiosa), que tem como hospedeiro mais de 100 plantas diferentes, entrou na Europa e foi detectada em Itália. Olival, mirtilo, vinha, citrinos, amendoeiras, prunoídeas, entre outras, são plantas a ter em conta uma vez que as áreas plantadas em em Portugal são significativas.
Os vetores são os do costume, onde se contam os cicadelídeos, heminópeteros (entre outros); também a importação de material vegetal sem qualquer controle é preocupante e assume um significado maior pois é o principal canal de dispersão da doença a longa distância.
Com o atual quadro comunitário, as áreas de mirtilo (instalados ou  a instalar, fruto de Projectos PRODER), são de si um problema, uma vez que não existem plantas disponíveis para todos,  provenientes de viveiristas certificados. A procura desenfreada  e louca de plantas, para que os prazos PRODER sejam cumpridos, tem levado à importação sem regras de plantas de qualquer parte do mundo. A situação é tão caricata e preocupante que até no OLX existem plantas à venda (e o nosso MAMAOT assiste impávido e sereno a isto?????)... é uma tourada... uma autêntica tourada e, ou me engano muito ou já temos lotes contaminados... (era agora que eu quereria estar enganado)!

Todos estes problemas serão realmente mais devastadores quanto maior for a ignorância científica e técnica do País e dos intervenientes:
- Temos um problema ao nível dos meios de luta químicos que não são eficazes quanto a bactérias;
- temos um problema ao nível dos meios de luta químicos quanto a pragas pois a gestão de resistências são cada vez mais difíceis de contornar;
- temos um problema em termos de luta biotécnica pois a ciência anda a velocidades mais reduzida que o nível de dispersão dos problemas;
- temos um problema ao nível dos meios de luta biológico pois não são acessíveis ou não existem para todo o tipo de problemas;
- temos um problema ao nível das medidas mitigadoras do risco, pois nem sempre há imposição de regras, nem sempre há respeito pelas regras e nem sempre há fiscalização da aplicação das regras;
- Temos um MAMAOT que acorda tarde demais para os problemas

Temos ainda recentemente um PAN (plano de ação nacional) sobre o uso sustentável de pesticidas e a sua forma de atuação a nível nacional, que dispensa os técnico dos atos envolvidos na aplicação dos princípios da proteção integrada ta(PI), deixando os agricultores, pouco profissionais e pouco competentes, no que à proteção das plantas diz respeito, por sua conta e risco.
Ontem mesmo, estive com um produtor de kiwis, com 6 ha, que me disse que não dormia bem as noites com medo da PSA; há uns tempos atrás, um viticultor, desabafava que lhe metia dó olhar para a sua vinha; numa estufa com tomate, eu mesmo vi a Tuta absoluta a deliciar-se com cerca de 60% da produção...
De futuro vou  ver soutos, pomares de mirtilos, olivais com os mesmo problemas - PREJUÍZOS GRAVES QUE DEITAM POR TERRA UM SONHO, UMA VIDA, UMA SUSTENTABILIDADE...
Por isso, não posso aceitar que os intervenientes, todos eles, onde eu me incluo, possam ter uma atitude passiva e negligente, porque a ser assim, esta-se a cometer um ato hediondo - MATA-SE  A CULTURA E QUEM SABE O CULTIVADOR!

Esta não é por certo a melhor prenda de natal para a nossa agricultura...

Bem haja, e feliz natal!




1 comentário:

Unknown disse...

Tema delicado.
Temos que conhecer melhor os hábitos destas pragas, para podermos planear o controlo mais adequado.

Boas Festas,

Mário Fontoura da Cunha

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